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Fernanda na Academia

Por que mesmo estava fazendo aquilo? Ah, sim, corpo malhado. Corpo malhado! Corpo malhado! Talvez, se repetisse isso muitas vezes, suas gorduras se cansassem e saíssem de seu corpo às pressas. Estava quase funcionando com ela. Se o instrutor dissesse “vamos lá!” mais uma vez, ela o mandaria para algum lugar... Um hospital! Que homem animado! Quem conseguia estar tão feliz fazendo exercícios? Estava suando, sem ar, seus músculos queimando, exaustos pelo esforço não habitual, e aquele... sujeito feliz! A felicidade dele a irritava. Queria apagar aquele sorriso de “você consegue” da cara dele com um tapa.
– Respira, docinho, está quase acabando.
Ela enfiaria um docinho goela a baixo dele e mostraria a ele o que era ser feliz de verdade... Muito fácil para ele dizer “só mais um pouco” quando era ela que estava se esforçando e não aguentando nem o “pouco”, quem dirá o “mais”. Onde estava com a cabeça quando inventou isso? Academia? Sério? Não tinha nada menos torturante para fazer em suas horas vagas, durante as férias? Como se já não bastasse os olhares, olhavam para ela com reprovação, como se a academia fosse apenas para pessoas magras, ainda tinha um instrutor sádico.
– Muito bem! Agora se hidrate e vamos para o próximo!
Maldito! Uma pena que olhar não mata, mas conseguia pensar em dez maneiras diferentes de fazer isso com sua garrafinha d’água. Se ele soubesse... Mas não, ele não sabia. Ainda tinha aquele sorriso divertido, como se não tivesse uma preocupação na vida, nem pressa, nem fome... Fome! Ela estava morrendo de fome! Aquele lugar era um preparatório militar com um nome diferente!
– Agora, para encerrar, uns abdominais para ficar gata!
Estava começando a odiar gatos... Já o instrutor, ela começou a odiar no primeiro dia. E mesmo assim tinha voltado. Ah, esperança. Todos falam que vai melhorar, que vai valer a pena, que só o começo é difícil... Bem, ela estava no começo há muito tempo já, estava cansada de esperar o meio e a melhora, e não via possibilidade de existir um fim. Exigiria um anúncio mais verdadeiro das academias. Sessões de tortura, diversas modalidades, torturador individual! Sim, bem mais parecido com a realidade.
– Prontinho! Por hoje é só! Já não se sente mais magra?
Queria gritar um sonoro não e acrescentar como realmente se sentia, vinda da guerra e altamente bombardeada, mas limitou-se a sorrir. Ele envelheceria com culotes. Esse seria seu castigo, culotes! Será que ele continuaria tão feliz tendo que ir a academia para perder os culotes? Claro que não!

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